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Os astros têm uma mensagem para o seu negócio…

Carta do Chefe Seattle

Foto do escritor: André da PRAXISAndré da PRAXIS

Os índios Duwamish habitavam a região onde hoje se encontra o Estado

americano Washington - no extremo Noroeste dos Estados Unidos, divisa

com o Canadá, logo acima dos Estados de Montana, Idaho e Oregon. No

passado era um "paraíso na Terra", região inspiradora de uma das mais

lindas 'poesias' dedicadas à natureza - o discurso que o Chefe indígena

Duwamish (Chefe Seattle) fez ao Governo Americano na época -, hoje,

ainda sendo bela, mas não mais um 'paraíso', sua cidade mais famosa é

Seattle (nome dado em homenagem ao Chefe), uma beleza de outro tipo

que infelizmente vem gerando graves problemas ecológicos. Os índios

migraram pelo Puget Sound para a Reserva Port Madison. O Chefe Seattle e

sua filha estão enterrados lá.

Existem muitas controvérsias sobre o conteúdo original do discurso. O

primeiro registro escrito que se conhece, foi feito no Jornal Seattle

Sunday Star em 1887 pelo Dr.Henry Smith, que estava presente no

pronunciamento - ele publicou suas próprias anotações com comentários

sobre o Grande Chefe, que segundo ele, era uma pessoa profundamente

impressionante e carismática. Nos anos 70 (1970) foram divulgadas várias

versões deste discurso em conexão com movimentos ecológicos e a favor

da preservação da natureza; o discurso ficou muito conhecido, quase

mitificado, ficando de lado as discussões sobre sua originalidade.

Aqui, após a tradução portuguesa de uma das mais famosas versões da

década de 70, transcrevemos a publicação americana original do Dr.Henry

Smith-1887.


Chefe Seattle
Chefe Seattle

Discurso feito pelo Chefe Seattle ao Presidente Franklin Pierce em 1854

(depois do Governo Americano ter dado a entender que desejava adquirir o Território da

Tribo)

O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa

terra, o grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e

benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não precisa

de nossa amizade.

Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos,

o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe de

Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza

com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do

ano.

Minha palavra é como as estrelas - elas não empalidecem.

Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia nos é

estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água,

como então podes comprá-los? Cada torrão desta terra é sagrado para meu

povo, cada folha reluzente de pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de

neblina na floresta escura, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados nas

tradições e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores

carrega consigo as recordações do homem vermelho.

O homem branco esquece a sua terra natal, quando - depois de morto - vai

vagar por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta

formosa terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra

e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o

cavalo, a grande águia - são nossos irmãos. As cristas rochosas, os sumos

da campina, o calor que emana do corpo de um mustang, e o homem -

todos pertecem à mesma família.

Portanto, quando o grande chefe de Washington manda dizer que deseja

comprar nossa terra, ele exige muito de nós. O grande chefe manda dizer

que irá reservar para nós um lugar em que possamos viver

confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto,

vamos considerar a tua oferta de comprar nossa terra. Mas não vai ser fácil,

porque esta terra é para nós sagrada.

Esta água brilhante que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas

sim o sangue de nossos ancestrais. Se te vendermos a terra, terás de te

lembrar que ela é sagrada e terás de ensinar a teus filhos que é sagrada e

que cada reflexo espectral na água límpida dos lagos conta os eventos e as

recordações da vida de meu povo. O rumorejar d'água é a voz do pai de

meu pai. Os riois são nossos irmãos, eles apagam nossa sede. Os rios

transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos

nossa terra, terás de te lembrar e ensinar a teus filhos que os rios são

irmãos nossos e teus, e terás de dispensar aos rios a afabilidade que darias

a um irmão.

Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver.

Para ele um lote de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que

chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra não é

sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois de a conquistar, ele vai embora,

deixa para trás os túmulos de seus antepassados, e nem se importa.

Arrebata a terra das mãos de seus filhos e não se importa. Ficam

esquecidos a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança. Ele

trata sua mãe - a terra - e seu irmão - o céu - como coisas que podem ser

compradas, saqueadas, vendidas como ovelha ou miçanga cintilante. Sua

voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto.

Não sei. Nossos modos diferem dos teus. A vista de tuas cidades causa

tormento aos olhos do homem vermelho. Mas talvez isto seja assim por ser

o homem vermelho um selvagem que de nada entende.

Não há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Não há lugar

onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das

assa de um inseto. Mas talvez assim seja por ser eu um selvagem que nada

compreende; o barulho parece apenas insultar os ouvidos. E que vida é

aquela se um homem não pode ouvir a voz solitária do curiango ou, de

noite, a conversa dos sapos em volta de um brejo? Sou um homem

vermelho e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento a

sobrevoar a superfície de uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado

por uma chuva do meio-dia, ou rescendendo a pinheiro.

O ar é precioso para o homem vermelho, porque todas as criaturas

respiram em comum - os animais, as árvores, o homem.

O homem branco parece não perceber o ar que respira. Como um

moribundo em prolongada agonia, ele é insensivel ao ar fétido. Mas se te

vendermos nossa terra, terás de te lembrar que o ar é precioso para nós,

que o ar reparte seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que

deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu

último suspiro. E se te vendermos nossa terra, deverás mantê-la reservada,

feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir

saborear o vento, adoçado com a fragância das flores campestres.

Assim, pois, vamos considerar tua oferta para comprar nossa terra.

Se decidirmos aceitar, farei uma condição: o homem branco deve

tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.

Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto

milhares de bisões apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem

branco que os abatia a tiros disparados do trem em movimento. Sou um

selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser

mais importante do que o bisão que (nós - os índios ) matamos apenas para

o sustento de nossa vida.

O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o

homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto

acontece aos animais, logo acontece ao homem. Tudo está relacionado

entre si.

Deves ensinar a teus filhos que o chão debaixo de seus pés são as cinzas de

nossos antepassados; para que tenham respeito ao país, conta a teus filhos

que a riqueza da terra são as vidas da parentela nossa. Ensina a teus filhos

o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo quanto

fere a terra - fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem

sobre eles próprios.

De uma coisa sabemos. A terra não pertence, ao homem: é o homem que

pertence à terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas,

como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo

quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem

teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele

fizer à trama, a si próprio fará.

Os nossos filhos viram seus pais humilhados na derrota. Os nossos

guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam

o tempo em ócio, envenenando seu corpo com alimentos adoçicados e

bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos

últimos dias - eles não são muitos. Mais algumas horas, mesmos uns

invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra

ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para

chorar, sobre os túmulos um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de

confiança como o nosso.

Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa como amigo

para amigo, pode ser isento do destino comum. Poderíamos ser irmãos,

apesar de tudo. Vamos ver, de uma coisa sabemos que o homem branco

venha, talvez, um dia descobrir: nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez

julgues, agora, que o podes possuir do mesmo jeito como desejas possuir

nossa terra; mas não podes. Ele é Deus da humanidade inteira e é igual sua

piedade para com o homem vermelho e o homem branco. Esta terra é

querida por ele, e causar dano à terra é cumular de desprezo o seu criador.

Os brancos também vão acabar; talvez mais cedo do que todas as outras

raças. Continuas poluindo a tua cama e hás de morrer uma noite, sufocado

em teus próprios desejos.

Porém, ao perecerem, vocês brilharão com fulgor, abrasados, pela força de

Deus que os trouxe a este país e, por algum desígnio especial, lhes deu o

domínio sobre esta terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é para

nós um mistério, pois não podemos imaginar como será, quando todos os

bisões forem massacrados, os cavalos bravios domados, as brenhas das

florestas carregadas de odor de muita gente e a vista das velhas colinas

empanada por fios que falam. Onde ficará o emaranhado da mata? Terá

acabado. Onde estará a águia? Irá acabar. Restará dar adeus à andorinha e

à caça; será o fim da vida e o começo da luta para sobreviver.

Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos com que sonha o homem

branco, se soubéssemos quais as esperanças que transmite a seus filhos

nas longas noites de inverno, quais as visões do futuro que oferece às suas

mentes para que possam formar desejos para o dia de amanhã. Somos,

porém, selvagens. Os sonhos do homem branco são para nós ocultos, e por

serem ocultos, temos de escolher nosso próprio caminho. Se consentirmos,

será para garantir as reservas que nos prometestes. Lá, talvez, possamos

viver o nossos últimos dias conforme desejamos. Depois que o último

homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de

uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará

vivendo nestas floresta e praias, porque nós a amamos como ama um

recém-nascido o bater do coração de sua mãe.

Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Proteje-a

como nós a protegíamos. "Nunca esqueças de como era esta terra quando

dela tomaste posse": E com toda a tua força o teu poder e todo o teu

coração - conserva-a para teus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos.

De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus, esta terra é por ele

amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.

 
 
 

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